OS DESCAMINHOS DE SÃO FRANCISCO DE PAULA ATÉ A COPA
(mais danos ambientais...)


Biól. MSc. Lisiane Becker

O município de São Francisco de Paula (RS) é um local singular. Num intrincado processo ecológico, a sua exuberante biodiversidade age sinergicamente com os recursos hídricos - que contribuem para cinco bacias hidrográficas de duas (das três) regiões hidrográficas do Rio Grande do Sul. E, por tanta beleza, está na lista oficial dos municípios para visitação da COPA 2014. Paradoxalmente, o município está substituindo todos os seus atributos naturais pelo cultivo de Pinus sp e Acacia sp., alterando drasticamente a paisagem da campos de altitude e das florestas. São exemplos disto, entre inúmeros outros, o Vale do rio Padilha e Sumidouro, no rio Rolante.

Vale do Rio Padilha. O local abriga a RPPN MIRA-SERRA, única Unidade de Conservvação da categoria, do RS, a ter aprovado seu plano de manejo aprovado pelo ICMBio, é também um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (MaB/UNESCO). Considerado de extremamente alta importância para a conservação da biodiversidade (Portaria MMA 09/2007), subsumida na poligonal estadual da Mata Atlântica, com sítio histórico-cultural, área de nascentes, a área abrigada várias espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção. Pois, justamente aí, neste santuário da natureza ainda conservada a luz para todos levou o desmatamento para plantio de Pinus sp., com destruição da floresta . Uma Ação Civil Pública ainda tramita na justiça federal,, enquanto as exóticas crescem ilegalmente. Quando cortadas, as toras clandestinas só terão um acesso para serem transportadas: a famosa trilha histórica que fazia parte do complexo denominado “trilha dos Tropeiros” – que ligava Viamão (RS) a Sorocaba (SP).

Sumidouro. Alvo de mais um grave dano ambiental. A vegetação ciliar foi derrubada para dar passagem aos caminhões carregados de Pinus sp. Isto porque a ponte antiga, que completa um cenário idílico, não agüentaria o peso dos veículos de carga. O acesso em meio à Mata Atlântica, que os poucos moradores da zona rural de Sumidouro utilizam, ficou praticamente inviabilizado para veículos leves.


A travessia de caminhões já ocorria dentro dos riachos das propriedades silviculturais, visíveis para quem usa as águas do rio Rolante. A água do rio, utilizada para diversos fins pela comunidade (como lazer, lavoura e dessedentação de animais) fica comprometida pelo revolvimento do fundo e pelo óleo, agora presente.
No presente caso, a
empresa foi autuada pelos órgãos ambientais competentes. No entanto, algumas questões ainda intrigam...

Buscando informações na FEPAM, a MIRASERRA constatou que no processo de regularização, em 2011, a empresa de silvicultura não indica a estrada a ser utilizada. O que se sabe, é que na vistoria da FEPAM, o escoamento da madeira seria realizado por uma estrada próxima da FLONA (Floresta Nacional)– muito diferente do constatado.

O que causa apreensão é o fato da inexistência de indicação das estradas para escoamento das toras, no processo de licenciamento ambiental. Não há qualquer comprometimento das empresas do setor “florestal” com a manutenção das vias e sua trafegabilidade para os demais cidadãos. Nem mesmo o impacto sobre a Mata Atlântica, segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta, é considerado.

Para completar o quadro das mazelas municipais, o plano diretor ambiental de São Francisco de Paula, protege somente os 500m de cada lado das estradas estaduais e federais das plantações de exóticas. Aqueles acessos e trilhas propícios ao lazer e turismos ecológico e rural não estão contemplados!

A facilidade com que é possível constatar crime contra a natureza em São Francisco de Paula causa preocupação.
Para onde se olhe, há trilhas, picadas e estradas com as marcas da carga pesada e rotineira, como buracos, valetas, desmoronamentos e animais silvestres atropelados; vegetação exótica ocupando locais cada vez mais intangíveis; queimadas de campo de altitude (e até de florestas) com mais animais silvestres morrendo nas rodovias.
Serão estas as atrações reservadas para os turistas em 2014?
Não dá para acreditar...