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CONHEÇA O GATO-DO-MATO-PEQUENO, da campanha pela FAUNA na MATA ATLÂNTICA

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Imagens do felino, gentilmente, cedidas pelo fotógrafo Gustavo Pedro – autor da bela publicação
Parque Estadual dos Três Picos.+ Três Picos State Park. Rio de Janeiro: Luminatti Editora, 2017. 240p.il. ISBN 978-85-93621-00-0

Nome popular: Gato-do-mato-pequeno
Nome científico: Leopardus guttulus

Texto: Biól.MSc. Lisiane Becker

CARACTERÍSTICAS: são semelhantes ao gato doméstico, pesando até 3kg. É a menor espécie de felino silvestre no Brasil e, a menor segunda da América do Sul. Apresentam “rosetas” – popularmente chamadas de pintas, que tendem a ser pequenas, na maioria das vezes abertas e adensadas, e a interpretação de fundo é amarelada. Os pelos são voltados ​​para trás. Como em algumas outras espécies, podem ser vistos Gatos-do-mato-pequeno totalmente pretos (=melanismo).

COMO VIVEM: De hábito solitário, noturno-crepuscular (mas, também, com atividades diurnas), o L. gutullus é terrestre, apresentando desenvoltura na vegetação arbórea. Para procriar, não há época do ano específica . A gestação é de 73-78 dias, nascendo de 1 a 4 filhotes.

Eis uma história interessante e complicada sobre Gatos-do-mato-oequenos:
Até poucos anos atrás, ninguém acreditaria que os Gatos-do-mato-pequeno das regiões do país, sendo tão parecidos entre si, não seriam todos da mesma espécie.
No entanto, estudos genéticos recentes mostraram que se tratam de espécies diferentes:  
Leopardus guttulus é o Gato-do-mato da região sul/sudeste e, o Leopardus tigrinus ,é o Gato-do-mato-pequeno encontrado no norte/ nordeste.
Para complicar ainda mais, foi constatado que existem populações puras e populações híbridas destes Gatos-do-mato.  
Foi no Rio Grande do Sul / Brasil que estudos, conduzidos entre 1993 e 2004, cogitaram a possibilidade de haver hibridação entre as espécies Leopardus tigrinus e Leopardus geoffroyi, devido a observação de indivíduos portadores de fenótipos (= manifestação visível da composição genética) intermediários para o porte corporal e padrões de pelagem[1].
Estes dois felídeos são alopátricos (= populações que estão geograficamente isoladas).
Entretanto, a existência de uma zona de contato entre eles, que inclui o Rio Grande do Sul, oportunizou a hibridação destas espécies distintas.
O trabalho de Lehugeur[2] sugere, também, a “produção de uma prole viável e no mínimo parcialmente fértil, capaz de cruzar entre si e/ou com uma ou ambas as espécies parentais. (…) Os resultados aqui encontrados sugerem uma hibridação relativamente recente e provavelmente atual”. 
E, o mais curioso, é que os Gatos-do-mato-pequenos do norte/nordeste não se cruzam com os do sudeste/sul!  É o primeiro caso de espécies crípticas (= morfologicamente iguais mas, que não se intercruzam) registrado para gatos.[3]

ONDE ESTÃO: encontrado no bioma Mata Atlântica e ecossistemas associados. “A área de vida ainda é pouco conhecida para a espécie, variando entre 1 e 25 km2 dependendo da disponibilidade de recursos” [4].

DO QUE SE ALIMENTAM: “A dieta é especialmente à base de mamíferos muito pequenos (< 100 g), sendo a presença de aves e répteis também bastante representativa. Mamíferos de maior porte (> 700 g), inclusive cutias e pacas”4. “A quantidade de roedores presente demonstra o papel no equilíbrio destes animais. Deste modo, L. guttulus pode ser considerado uma espécie chave para a manutenção e equilíbrio do ambiente em que vive”.[5]

Imagem do felino utilizado na estampa, gentilmente cedida pelo fotógrafo Gustavo Pedro – autor da bela publicação
Parque Estadual dos Três Picos.+ Três Picos State Park. Rio de Janeiro: Luminatti Editora, 2017. 240p.il. ISBN 978-85-93621-00-0

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ESTADO DE CONSERVAÇÃO:
A espécie está categorizada como “Vulnerável” (IUCN e RS) . Aliás, Leopardus guttulus e L. tigrinus são os únicos, dentre todos os felinos do Brasil, que estão ameaçados globalmente [6].
Conforme o pesquisador Eduardo Eizirik [1] “a maior causa do declínio da população de felídeos silvestres na natureza é a destruição e fragmentação do seu habitat em consequência do desenvolvimento agrícola e pecuário, da exploração da madeira e mineração, das construções de represas e hidrelétricas, além do tráfico ilegal e da perseguição direta em forma de caça e abate.”

AÇÕES PARA SUA CONSERVAÇÃO [4]:
-Aumentar o nível de conhecimento da espécie, para melhor indicação de ações de manejo e conservação;
-Restabelecer a conectividade dos habitats fragmentados, através do uso de ferramentas da ecologia de paisagens, nas áreas com maior fragmentação na Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga;
-Adotar uma série de ações voltadas para a conservação fora das Unidades de  Conservação, as quais incluiriam educação ambiental, conectividade, controle de doenças e de predação;
-Fazer o manejo das populações em cativeiro, levando em consideração a presença das três Unidades de –Manejo propostas para a espécie;
-Adotar, onde cabíveis, medidas retaliatórias contra a caça e o comércio ilegal;
-Implementar o Plano de Ação da espécie, o qual contém as diretrizes para a sua conservação.

Referência bibliográfica:
[1] https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2013/11/pesquisadores-da-pucrs-e-da-ufrgs-descobrem-nova-especie-de-gato-silvestre-4347201.html

[2] LEHUGEUR, Livia Menger. Caracterização evolutiva de uma zona híbrida entre duas espécies de felídeos neotropicais (Leopardus tigrinus E L. geoffroyi) através da análise de marcadores nucleares. 2013. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

[3] https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2013/11/30/interna_ciencia_saude,401001/pesquisa-aponta-que-gatos-do-mato-pequenos-formam-duas-especies-distintas.shtml

[4]  https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/biodiversidade/fauna-brasileira/avaliacao-do-risco/carnivoros/gato-do-mato_leopardus_tigrinus.pdf

[5] http://seb-ecologia.org.br/revistas/indexar/anais/2017/anais/resumos/resAnexo1-0410-1430-5fcd9b1ae17e892a4bb8a43f7f1498ad.pdf

[6] https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2020/07/28/felino-ameacado-mundialmente-de-extincao-e-registrado-no-mato-grosso-do-sul.ghtml

SAIBA MAIS:

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41133/tde-09122010-104050/pt-br.php?hc_location=ufi

http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2016-2.RLTS.T54010476A54010576.en

http://www.ra-bugio.org.br/ver_especie.php?id=57

https://www.felinosdoaguai.com/felinos.htm

https://www.oeco.org.br/noticias/27810-analises-geneticas-revelam-um-novo-gato-brasileiro/

MATA ATLÂNTICA:

O QUE É, PARA QUE SERVE?

Consideram-se integrantes do Bioma Mata Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste (extraído do art. 2º, Lei Federal nº 11.428/2006).

Decretada Reserva da Biosfera, pela UNESCO, e protegida como Patrimônio Nacional, a Mata Atlântica é a quinta floresta mais ameaçada de extinção .do mundo. Ocorre em 17 estados do Brasil, sendo que cerca de 70% da população brasileira dela depende.

Apesar de estar reduzida a menos de 10% da sua cobertura original, a Mata atlântica é, ainda, uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta. Ela é responsável pela manutenção da qualidade/quantidade de água, pelo controle do equilíbrio climático, pelo combate à erosão de encostas, pela fertilidade do solo, pela geração de emprego e renda, pelo fornecimento de material genético para indústria farmacêutica e alimentícia, pela qualidade de vida das populações, entre tantos outros serviços ambientais inestimáveis.

É importante destacar que os animais silvestres são os principais mantenedores da Mata Atlântica, pois dispersam as suas sementes com eficácia – e, com isto, participam da conservação dos recursos hídricos.